segunda-feira, novembro 21, 2005

Saber sobre as mulheres

Sabe-se de um tempo que saber era coisa só dos homens. Mulher, então, nada sabia. Fala-se que já nessa época, eles se julgavam bastante sábios, embora não soubessem explicar por que as mulheres nada sabiam. Sabedoria ou não, esse saber aleijado dos homens, sustentado num lado só da realidade, pariu séculos de outros pseudo-sábios, que curiosamente sobre o saber das mulheres continuaram nada sabendo. Certo dia, um homem finalmente soube que as mulheres sempre souberam, mas tão sabidas foram, que desse silêncio fizeram sua arma - veja que sabiamente aguardaram o crescimento do tal saber dos homens. Não importava mais demonstrar para eles o quanto eram sabedoras das coisas, mas mantê-los equivocados quanto ao que julgavam saber. Saibam que assim iniciou a emancipação dos homens, e não das mulheres, pois elas sabiam exatamente quanto eles não sabiam, provando dessa forma que eram muito mais sábias e evoluídas. Sabendo ou não desse processo, o mundo finalmente resolveu expandir seus saberes para o outro lado da criação: o universo feminino. Uma porta então se abriu, não por completo, mas conseguiu rachar algo na velha estrutura do mundo. É bem verdade que por essa porta poucas mulheres passaram, e certamente muitas não terão chance de passar. Para estas, a vida permanecerá como na época em que se pensava que as mulheres nada sabiam. Contudo, sabemos, muito se avançou no último século neste sentido, onde poucos são os segmentos da sociedade em que as mulheres não estão inseridas ou mesmo ocupando cargos que antes eram destinados só aos homens. Sabe-se que é um bom começo, contudo muito há que se saber e aprender. Do outro lado da verdade, essa mesma porta, que não se abriu por completo à maioria das mulheres, está menos aberta às mulheres negras. E isso não é novidade. Na época exclusiva dos homens, aquela que a evolução deixou para trás, quando uma mulher não sabia de nada, menos ainda sabia uma mulher negra. Ou seja, ela representava a parte mais desprezível da sociedade. Lamentavelmente, é realidade que mudou apenas de cara e vestes, não de gravidade, e precisa urgentemente ser analisada, estudada, reformulada e transformada. Não cabe mais em nossa lista de saberes esse tipo de crueldade. Está dito. Sentemo-nos. Falemos então sobre as mulheres, sobre suas conquistas, sobrevoemos o seu universo, tentemos compreender os seus anseios, os vôos de sua emancipação, a sua pressa, analisemos sua condição em nossa sociedade, sobretudo voltemos nossa atenção maior para a realidade da mulher negra e toda problemática que há em torno de sua história. Não é algo apenas para se saber, é algo para ser mudado. Sabe-se hoje que os homens já imaginam quanto sabem as mulheres, porém muito mais, precisam saber sobre respeito. Somente assim saberão sobre si mesmos, sobre sua descendência e sobre o futuro da humanidade. _______________________________....__________________________________ Ricardo Fabião (escrito em agosto de 2005)

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